Marau é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, colonizado por imigrantes Italianos e dedicado à agricultura, indústria e criação de aves e suínos.

Sua história é antiga...

Dirson Volmir Kläsener Willig

 Os temas aqui abordados serão feitos em forma de tópicos breves visando criar uma linha de raciocínio no tempo baseado em fatos, relatos e contos locais, assim como pesquisas em literaturas e apontamentos das mais diversas fontes. Com tempo serão acrescidos de maiores detalhes sempre na tentativa de preservar a maior originalidade possível.

O Índio, o branco e o século XIX

O cacique Doble, depois da ruptura com o cacique principal, Braga, apresentou-se aos brancos para se aldear, tornando-se um dos principais auxiliares da força "militar" dos brancos para a submissão dos grupos arredios que atacavam os colonos e tropeiros. Doble aparece, assim, em muitos lugares, com Braga, antes do contato e, depois, a serviço dos brancos: na região do Mato Castelhano, até 1848; nos fundos dos Campos de Nonoai e Guarita, em 1849; em Vacaria, em 1851. No aldeamento Santa Izabel conseguiu submeter os Kaaguá, próximo à colônia Monte Caseros (Mato Português); Doble é referido no Pontão, em 1880, com 200 índios. Foi responsável pelo extermínio do grupo do cacique Nicafé, cujos remanescentes fixaram-se no aldeamento Santa Izabel, chefiados pelo capitão Chico (que deve ter sucedido o falecido Nicafé). Este aldeamento foi extinto em 1861. Em 1862, Doble deixou a região e aldeou-se próximo à colônia Monte Caseros, no local depois conhecido como Toldo de Caseros. Na verdade, Doble comandava 11 grupos, cada qual com seu cacique, quando se apresentaram na colônia Monte Caseros.

O cacique principal (Põ’í-bang) Braga, comandava um conjunto de 23 subgrupos e dominava um extenso território que compreendia o Mato Castelhano, o Campo do Meio, e os campos de Vacaria e do Passo Fundo, a sudeste dessas matas e entre as cabeceiras dos rios Turvo e da Prata, tributários do rio das Antas. Com a dissidência do grupo do cacique subordinado Doble, passam a guerrear entre si. A conquista dos caciques Nonoai, Kondá e Nicafé representou para Braga mais perseguidores. Pouco antes de 1850, estava alojado entre os rios das Antas e Caí, e, possivelmente para fugir das perseguições, deslocou-se para as serras entre os rios Turvo e Prata, onde o encontrou o engenheiro Mabilde, que o convenceu a aldear-se no Campo do Meio.

Ten.-Cel. PIERRE FRANÇOIS ALPHONSE BOOTH MABILDE  1806-1892

Vivendo no Rio Grande do Sul desde 1833, o imigrante belga atuou como Engenheiro Agrimensor das Colônias (no noroeste do Estado) entre os anos de 1848 e 1854 (cargo nomeado a 20 de junho de 1848). Nesse período teve muito contato com grupos Kaingang locais, registrando muito de suas experiências em  textos e um conjuntos de notas os quais foram usados como base de raciocínio para alguns dos episódios aqui descritos.

Os apontamentos de Mabilde foram seguidos acriticamente, como descrição “objetiva” da cultura e sociedade Kaingang. A credibilidade vem do “fato” de que Mabilde estivera preso por dois anos entre os índios, com os quais aprendeu o idioma indígena, elevando assim, para mais de uma dezena seu conhecimento em línguas. Seus escritos têm sido usados também contra processos Kaingang atuais em alguns conflitos fundiários, tamanha a credibilidade dos fatos por ele apontados.

Conta também que em 1850, ele proprio executava a abertura de uma picada ligando Passo do Pontão na costa o Uruguai até Picada Feliz no Vale do Cahy cortando territorios Kaingang. Em maio daquele ano teria feito o aldeamento do grupo do cacique Braga (pay-bang), que vivia no Mato Castelhano e Campo do Meio. (o aldeamento teria mudado para os fundos dos campos de Vacaria). Os caciques Fongue e Doble (yu-toahê)  já aldeados eram ajudantes da coroa nas intuições de aldeamentos.

o Cacique Braga, “cacique principal das vinte e três tribos  possuía dezenove mulheres, que viviam no mesmo rancho do cacique e dos quais, na maior parte delas, tinha filhos. Reina a maior harmonia entre essas mulheres.”

Sendo muitos os subgrupos chefiados por Braga (por volta de 23), alguns caciques não se aldearam e os dissidentes permaneceram nos antigos territórios, como foi o caso do grupo chefiado por Nicafé. As terras próximas ao campo do Cavarú-Cuiá permanecia do uso da gente do cacique Nhancuiá, e em 1865/66 havia registros da presença do cacique Chico, que ainda vivia no Campo do Meio.

A oeste, nas regiões de Vacaria e Lagoa Vermelha, viviam os grupos chefiados por Doble e Nicafé (Nicaji; Nicafim). Depois do cacique Condurá (Domingos) vem o cacique Nhucoré, conhecido pelos nomes de “Francisco sem nariz” ou de “Chico nariz comido”, o qual tem permanecido com sua tribo, a maior parte do tempo, nos Campos do Meio, nos fundos da fazenda de um tal  Diogo José de Oliveira.

Dos ritos e funerais destaca a respeito do enterramento do Cacique Doble, que este “foi sepultado com arco e flecha a seu lado”  Mais ainda, escreveu: “O cacique Yu-toahê (Doble) não foi o primeiro daqueles indígenas coroados que, depois de aldeados, morreu e foi sepultado com arco e flecha a seu lado, panela e chifre de boi. Antes de Yu-toahê, já dois outros indígenas coroados foram assim sepultados..

Sobre as faculdades intelectuais dos nossos indígenas, aponta em geral e de fato, que eram mais inteligentes que os negros africanos. Compara no entanto, aspectos físicos  com os dos mongóis. Para concluir sobre seu parentesco (real ou de índole) relata:

"A identidade de feições é tão declarada que pode fazer supor que os coroados são descendentes da raça mongol. No próprio caráter dos indígenas observa-se, até certo ponto, aquela identidade da raça: muito desconfiados, as faculdades intelectuais circunscritas, preguiçosos e pouco dados ao trabalho, muito ambiciosos, astuciosos, simulados, traidores e, sobretudo, muito egoístas e orgulhosos. Os coroados são dotados de mau gênio, de má índole e de todos os defeitos que, naturalmente, se opõem a uma pronta civilização".

e continua...

"A índole feroz dos coroados faz com que, nos combates entre si ou com outra nação selvagem, se comportem com uma crueldade sem limites, sendo naquelas ocasiões dominados por uma paixão tão sanguinária que não lhes ocorre senão a idéia de extermínio".

Mabilde não menciona, por exemplo, nenhum rio ou nome de cacique com a respectiva marca, a não ser a informação indireta – por uma carta de um militar que esteve nas terras próximas ao campo do Cavarú-Cuiá – do uso pela gente do cacique Nhancuiá.

A prova destes relatos e de muitos outros que não julguei necessário  transladar, nos traz à tona a real situação vivida por um homem branco em meio à mouros,  sua experiência nos mostra que nestas terras muita história correu e ela poderia ter um desfecho diferente daquele que ao longo dos anos nossos pais e avós nos contavam.

Assim, podemos ver em grande parte dos relatos, os nomes "aportuguesados" dos caciques que não condiziam com o real nome local adotado pela parte indígena. Vê-se que Doble era nato Yu-toahê, o cacique Chico era de fato Nhucoré, e o cacique Domingos era Condurá. Braga tinha seu nome particular Põ’í-bang ou Pay-Bang, já Nonoai e Condá  são ainda insabidos.

Particularmente adoto o pensamento, partindo da idéia que tantos nomes originais dos quais Mabilde se refere, certamente algum se aplica ao Cacique Marau, resta saber qual. Muito provavelmente Braga seja seu pai e só uUma pesquisa mais aprofundada poderá revelar mais algo.

O Colono

Em 1911 instalaram-se os primeiros colonos. Em menos de um decênio, conseguem transformar o pequeno reduto em povoado florescente e progresso que, cada vez mais, se destacaria pela produção agrícola e pela criação de suínos. O comércio e a indústria também desenvolvem-se. Marau, uma cidade próspera, tem ainda hoje a predominância de descendentes de imigrantes italianos que ali começaram a chegar em 1904, iniciando o desenvolvimento comercial e industrial deste tão prospero chão.

CONTINUA...